A criação do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Produção, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica de Fontes Hídricas, Térmicas e Alternativas de Foz do Iguaçu (SINEFI) está muito relacionada com as primeiras composições do quadro próprio de trabalho da Itaipu Binacional, especialmente na área de manutenção e operação que começaram a chegar à usina a partir dos processos seletivos implantados em 1979 e nos anos seguintes. Esses se somaram aos empregados requisitados de Furnas Centrais Elétricas, a partir de um contrato estabelecido para a vinda de técnicos com experiência. Posteriormente, Itaipu trouxe mais profissionais experientes requisitados da Eletrosul, da Eletronorte, da Chesf, Copel, Cesp. Nessa época, os militares estavam na direção da hidrelétrica.
A luta pela redemocratização do país mostrou de forma clara a necessidade dos trabalhadores se organizarem para que obtivessem conquistas salariais e sociais. Sob essa perspectiva, em 1985 iniciaram-se as tentativas para a viabilização de um sindicato para a categoria, em Foz. O grande problema enfrentado por essa classe trabalhadora eram os reajustes de salário, por causa da inflação muito alta. Os salários estavam muito defasados e havia contestações em relação à chamada cesta de benefícios: moradia, transporte, colégio para os filhos e plano de saúde.
Inicialmente, em busca de informações, foram feitas visitas ao sindicato dos comerciários de Foz do Iguaçu. Além disso, um dos profissionais da Eletrosul, Luís Antônio Pereira Pinto, conhecia sindicalistas do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas do Paraná (STIUPAR) que era um sindicato de base estadual e congregava os trabalhadores do setor elétrico, do saneamento básico e do gás canalizado.
“No primeiro semestre de 1986, fizemos uma reunião com representantes desse sindicato, em Foz,” relembra Assis Paulo Sepp, que esteve à frente das lutas sindicais por 32 anos. “Eram em torno de 15 pessoas. Foi lá no Clubinho da Copel, na subestação que fica na Avenida Tancredo Neves,” complementou. Em seguida, foi realizada a primeira campanha de filiações: 150 interessados se manifestaram.
A data-base do setor elétrico era mês de novembro. Uma pauta reivindicatória foi aprovada em Assembleia Geral, apresentada à Itaipu e saiu a proposta de Acordo Coletivo de Trabalho que acabou sendo reprovada numa assembleia bastante conturbada. O primeiro acordo só saiu depois de mais negociação, envolvendo também o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas do Rio de Janeiro (STIU/RJ), porque Itaipu tinha em torno de 400 empregados no Rio de Janeiro.
A ideia era que um representante local integrasse a direção estadual do STIUPAR para a criação de uma subsede em Foz, pela importância de Itaipu no cenário nacional e internacional e pela percepção de que os trabalhadores da hidrelétrica não poderiam ficar à margem do processo de redemocratização e do movimento sindical ascendente.
Sepp foi escolhido como representante, mas o Stiupar não cumpriu o que havia sido acordado. Nesse cenário, despontou Antônio Bonifácio da Silva, um dos trabalhadores da usina, experiente, vindo de São Paulo, encarregado do pátio de armação da Superintendência de Obras de Itaipu. Ele procurou Sepp e sugeriu a criação de uma associação profissional que depois seria transformada em sindicato, com deliberação em assembleia.
Reuniões foram realizadas na Igreja São João Batista, então catedral de Foz do Iguaçu. No local, era muito atuante a Pastoral Operária, que prestou apoio aos trabalhadores. Foram agregados profissionais da Copel, de Furnas e da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar). Fez-se edital para a constituição da associação. Em 27 de abril de 1987, foi constituída a Associação Profissional dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas de Foz do Iguaçu (APTIUFI). As empresas foram informadas e se iniciaram as negociações. Mesmo assim, quem ainda assinava os Acordos de Trabalho era o STIUPAR.
Em agosto de 1987, a associação foi transformada em sindicato. A Assembleia Geral foi realizada na Igreja São José Operário, localizada na Avenida Tancredo Neves (via de acesso à Itaipu), com a participação de cerca de 180 pessoas. O processo foi encaminhado via Ministério do Trabalho para oficialização do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas de Foz (STIUFI). Até que fosse concedida a carta sindical, os representantes partiram para mesa de negociação ainda como associação. Houve pedido de impugnação por parte do STIUPAR e um plebiscito foi convocado com as categorias: 98% dos votantes optaram pela criação de um sindicato próprio em Foz.
A partir da Constituição de 1988, que dava a chamada “liberdade sindical” (prevendo que os sindicatos fossem constituídos sem interferência do Ministério do Trabalho), o STIUFI passou a atuar de fato. Seguiu assim até 1996. Nesse ano, surgiu um movimento dentro da Companhia Paranaense de Energia (Copel) levantando a bandeira da criação do Sindicato dos Eletricitários do Paraná (SINDELPAR) de base estadual.
Como consequência foi fundado o Sindicato dos Eletricitários de Foz (SINEFI) em 26 de agosto de 1996 - que representa os trabalhadores a trabalhadoras da Copel, Furnas e Itaipu lotados em Foz do Iguaçu. Numa Assembleia Geral realizada na ASSEMIB, o SINDELPAR aceitou liberar a representação dos eletricitários lotados em Foz para o SINEFI. Posteriormente, através de Congresso da Categoria, foi dissolvido o STIUFI e seu patrimônio repassado proporcionalmente, pela quantidade representada, para o SINEFI e para o Sindicato do Saneamento de Cascavel e Região (SAEMAC) que passou a representar os trabalhadores(as) do saneamento de Foz.
Conquistas
Nos primeiros anos de atuação da APTIUFI e do STIUFI (1986, 1987 e 1988) não foi firmado Acordo Coletivo de Trabalho com a Itaipu. A hidrelétrica apenas assinava uma carta-compromisso com os termos que considerava adequado assumir. Apesar disso, em 1986, houve reajuste de salário, gratificação de férias, implantação de adicional regional (existente até hoje) e anuênio de 1%. Já em Furnas e na Copel tivemos papel importante para os trabalhadores(as) lotados em Foz, pois conseguimos pautar situações específicas não vividas por trabalhadores de outras regiões das mesmas empresas.
Um dos maiores problemas enfrentados pela classe operária é a corrosão dos salários pela inflação, que só se estabilizou a partir de 1994. Mesmo assim, até 2002, não tivemos Acordo Coletivo com reajuste salarial integral seja na Copel, Furnas ou na Itaipu. Um dos grandes desafios de representação os eletricitários, especialmente os da Itaipu, é o fato de a usina também ter empregados paraguaios, o que gera muitas questões e lutas pela chamada “paridade binacional”. Essa equiparação só foi possível depois de mais de uma década de lutas, a partir de 2003.
Outra luta incessante foi a Participação nos Lucros ou Resultados (PLR). Tanto na Copel como em Furnas quebrar os paradigmas da repartição justa foi objeto de muita luta. Na Itaipu mais ainda, a considerar que Itaipu sempre insistiu que não poderia distribuir lucros entre os(as) trabalhadores(as), por não ter lucros. Somente a partir de 2005 conseguimos formatar o Acordo da Participação nos Resultados (PR) que garante uma distribuição mais justa do que as anteriores.
Greves
“O SINEFI sempre primou pelo diálogo e pela argumentação de mesa,” destacou Sepp, eleito presidente em dez mandatos. “Mas, quando as tentativas se exaurem, a categoria é consultada para parar os trabalhos em busca de respostas”.
As greves mais representativas foram registradas em 1989 e 1990 que envolveram todo o setor elétrico. A de 1990 durou 30 dias no setor elétrico envolvendo Furnas e, na Itaipu, durou 12 dias. Na Copel houve muitas mobilizações e greves pelo ACT e a PLR, especialmente em 1989, depois em 2003 e 2004. Em FURNAS praticamente todos os anos ocorreram mobilizações ou greves seja pelo ACT, seja pela PLR, como consequência das tratativas da Eletrobrás para formalização dos ACT’s e ACT’s PLR. Da mesma forma na ITAIPU várias foram as mobilizações e greves por paridade de tratamento com os paraguaios, para implantação do adicional de turnos, por avanços no ACT, pela formalização do Termo de Pactuação da PR e, mais recentemente, em 2015, houve uma greve na Itaipu que durou 43 dias por causa da tabela salarial e reajuste de salário.
Quem é o Sepp?
“Na reunião que tivemos em abril de 1987, para a constituição da APTIUFI, a proposta era eu representar a categoria provisoriamente. Saí em 2019,” relembra Sepp, ironizando em tom de brincadeira, ao falar sobre os 32 anos que ficou à frente da luta sindical. Foram 10 mandatos seguidos. Ele passou no concurso da Itaipu em 1979, para atuar como operador de usina hidrelétrica e subestação, e se aposentou em 2008.
Novo presidente
O novo presidente do SINEFI, eleito em março de 2019, é Paulo Henrique G. Zuchoski, funcionário da Itaipu Binacional desde 01.08.2006. “PH”, como é conhecido, tem como formação: Técnico Industrial em Eletrônica, Tecnólogo em Automação Industrial e Advogado.
A meta, como presidente do SINEFI, é representar de forma digna os trabalhadores da Itaipu, Copel e Furnas, administrar o patrimônio da entidade de forma responsável e dirigir o sindicato segundo os princípios que objetivam uma sociedade justa.